terça-feira, 29 de abril de 2008

UMA ESCOLA PORTUGUESA COM CERTEZA!

Uma professora da Escola Secundária Carolina Michaëlis, no Porto, tirou o telemóvel a uma aluna em plena aula e, perante a resistência desta, acabou envolvida numa longa discussão pelo objecto, que envolveu o uso da força pela jovem. O episódio - presenciado e permitido pela maioria dos colegas da turma do 9.º C (apenas um se insurgiu, sem grande êxito, enquanto proliferava a gargalhada geral) - aconteceu na quarta-feira da semana passada. Filmado do início ao fim por um aluno e foi colocado no YouTube. Tirando a bizarria da filmagem, a situação não será inédita, disseram ao DN.

A cena aconteceu com Adozinda Cruz, uma professora de Francês, com cerca de 60 anos, que integra há vários anos a presidência da Associação Portuguesa do Parlamento Europeu dos Jovens, à qual se dedicou em exclusivo até há cerca de um ano - data a partir da qual terá começado a leccionar na Carolina Michaëlis.

A docente em causa só ontem terá apresentado queixa, tendo sido uma mãe a alertar a escola (que não esteve disponível para prestar declarações) e a Direcção Regional de Educação do Norte (DREN), que ordenou "de imediato um processo de averiguações", cujos resultados ainda não foram apurados. A sanção à aluna que protagonizou a situação poderá determinar, no limite, a sua suspensão ou expulsão daquela escola.

"Chocante, revoltante, com a autoridade do professor a ser completamente posta em causa, não apenas por essa aluna mas pela turma em geral", disse ao DN o presidente da Federação Nacional de Educação. "Merece a nossa reprovação total e deve ser alvo de uma clara sanção", diz João Dias da Silva, ressalvando a "necessidade de reforçar a autoridades dos professores nas escolas". No entanto, "sem ter um conhecimento concreto do enquadramento desta aluna", não arrisca uma possível sanção. Esta, diz, só poderá ser ditada pela escola, que "detém um conjunto essencial de informação sobre antecedentes, relacionamento da família com a escola, entre outros".

O uso de telemóveis está expressamente proibido dentro da escola e das salas de aula, mas as restrições raramente são cumpridas e este caso só será inédito pelo facto de ter sido filmado. Fernando Charrua - o professor que chegou a ser suspenso pela DREN por um alegado insulto ao Primeiro-ministro - é docente de inglês naquela escola e garante que "isto acontece muito vulgarmente em todas as escolas portuguesas, só que aconteceu a circunstância de estar um aluno a filmar".

Charrua diz ainda que as brincadeiras com os telemóveis "já se tornaram num desporto escolar que está a ser muito difícil de controlar". Diz-se um pouco tolerante a ponto de permitir aos alunos que vejam as horas no telemóvel ["já que agora quase nenhuns usam relógio"] mas que "é hábito apanhá-los a escondê-lo no regaço para mandar mensagens para outras salas de aula". "Combinam encontros lá fora com alunos de outras turmas e pedem para ir à casa de banho, fazendo apostas para ver quem é que consegue sair". Mas os malabarismos não se ficam por aqui. Durante os testes enviam fórmulas químicas ou de matemática e, principalmente nos testes de escolha múltipla, enviam as respostas uns aos outros, conta ainda.

O episódio que agora chegou à Internet foi protagonizado pelo 9.º C, que tem mais vídeos no Youtube e que, conta Charrua, "é considerado uma turma difícil, da qual em termos de conselho de turma se tem falado muito". Segundo o docente, existem muitos alunos institucionalizados em lares de crianças a frequentar o 9.º ano naquela escola, "miúdos problemáticos que chamam a atenção portando-se mal" e que, diz, a escola tem tentado integrar, misturando bons e maus alunos nas mesmas turmas.

Fonte: http://dn.sapo.pt/